sábado, 30 de abril de 2016

delírio

delírio

enlouquecia sem
recusas
sem receios
da sobriedade
que ampliava
o que condenavam

celebrava o
desconhecido
repensando a
carne e o
corpo
livre de conceitos

pois não lhes
convém palavras
desconhecidas que
ofendem as paredes?

deita-se a noite
e afasta-se da
Galáxia.

Hilda Helena Dias

purificação

purificação

carne viva
é a vida
pendurado na
forca
provamos
seu gosto
com
veneno
de cobra

devoro-a
e mergulho
na pouca
água jorrada
me limpo em
suas lágrimas
e me visto.



VOID - Abismo
Performance for Camera
Ana Montenegro and Maurizio Mancioli, collaboration.
Installation: Acquabox, location: Parahaus.
São Paulo, 2015

segunda-feira, 25 de abril de 2016

CONFIRA!!!

Veja isto: https://issuu.com/revistaalagunas/docs/pater

Participo desta edição com dois poemas. A revista ALAGUNAS tem uma proposta tremenda. Vale a pena conferir!!!

não sei morrer

não sei morrer

meus traços
indefinidos
pedirão
meu sangue
fervendo

meus olhos
estagnados de
água
molharão a
morte por
não saber da
minha presença

nula e inerte
ao silêncio
sem santo
por perto
enterro
raízes perdidas

a vida suicida
cansada de
viver
diz que gosta
de mim
mas assiste
meu fim

solitária
com asas
sem ter
onde repousar
sou louca
em meus
sonhos
teço roupas
para os vivos

talvez
nas minhas
entranhas
sempre
tenha existindo
um deus.

combate

combate

homens escrevem
seus nomes na
brancura de
serem repetidos
humanos
em existência
nua

no combate
a luta é
contra
abutres
cobras e
porcos.

Hilda Helena Dias

Carl Larsson (Swedish, 1855-1919), "The Witch's Daughter"

sem clareza

sem clareza

nossos corpos
geminados
contra leis
e normas
duplica
gritos

os relógios
distorcem a
voz
dando razão
as horas
partidas

presa no
mais dentro
de mim
saio do
mundo
eternamente.

Hilda Helena Dias

formas nulas

formas nulas

o que no ser
se aprofunda
é sentido e
guarda forma

a memória
perturba o
tempo
buscando o
antes do
início e
do fim

no nada
multiplicado e
disforme
a possibilidade
mais lúcida
de novos
segredos.

Hilda Helena Dias

Imagem
Vanitas - Presentimiento

(B)eco

(B)eco

frente a
frente
falo com
a rua
escura e
estreita

os dentes afiados
da escrita
trituram o
descaso
de significados

como
esse nada
necessário.

Hilda Helena Dias

Foto: Arô Ribeiro

círculos crescentes

círculos crescentes

giro em
espirais
crescentes
sem completar
círculos

tonta de
tanto
girar

tento ser
ave arisca
raios e
trovões
grande
gigante que
canta

sou quase
deus
estremecendo
em
vibrações.

Hilda Helena Dias

Belo horror

belo horror

a noite
demora
em mim

nostálgica
me canto
enquanto é
imortal a
ternura

amando-me
me torno
pássaro
num voo
mais
comovido

em mim
mesma
o voo

nas entranhas
busco
vestígios de
eternidade

não mais
sendo e
sem desejos
com o próprio
nome
abandonado
o belo é o
terrível que
se desfaz.

Hilda Helena Dias

Ludovic Florent a voulu capturer la beauté des mouvements des danseurs professionnels. Il a donc réalisé une série de photographies, "Poussière d'étoiles", où des danseurs nus effectuent leurs pas sur

nós

nós

nas falas
necessárias
a certeza da
presença
abre portas
de dentro

entre goles
e petiscos
a noite
inteira
é festa

somos amor
e morte
sobrevivendo
ao tempo.

Hilda Helena Dias

fim

fim

a morte intocável
no corpo inteiro
se alonga
o medo incontido
resguarda-se no
silêncio

a fuga dos meus
gestos e a
cor dos meus
sonhos perdida
é inútil
indo só

na partida
a forma sumindo
existe perdida
num encontro
desfeito na
memória do
amor ausente

consumida nas
incertezas digo
coisas caladas
que nem sei
ouvir.

Hilda Helena Dias

IN THE CLOUDS
Performance for Camera
Ana Montenegro and Maurizio Mancioli, collaboration.
São Paulo, 2014

palavra virgem

palavra virgem

as palavras
não vêm
e quando vêm
são falhas e
imprecisas
canto apelando
a todos os
gêneros

a ausência
caminha no
sonho
em redes o
mistério da
vida

soluços perdidos
na madrugada
em terra
sem tradições
traz o que é
preciso ser dito

a gente chega e
se vai
distante do mundo
derrotados pelo sonho
sem porto
sem direção
busco palavras
puras
no raiar da
manhã
perdidas na
madrugada.

Hilda Helena Dias

LUZ DA ZONA
Foto de Cláudio Zeiger
Feitas no Espaço do Grupo e Agrupamento Teatral- Com Arô Ribeiro em São  Paulo

eternidade

eternidade

no eterno
cansaço
meu nome será
fumaça de neblina
tédio cinza
no completo
silêncio

no sono imenso
penso a vida
exuberante e
perene.

Hilda Helena Dias

Foto: Google

Procura

Procura

seres surdos
e cegos dos olhos
não ouvem o
canto daqueles
que o amor
feriu
sem derrubar

homens conformados
de sorrisos inúteis
deixam de ser
caminho
com suas bocas
fechadas e
mãos atadas

humanos sem
amigos e
sem esperança de
retorno com
asas cansadas
procuram um
deus.

Hilda Helena Dias

Fotografia: Arô Ribeiro

velório

velório

a morte por perto
é silêncio e
desespero
palavras e
soluços presos
na garganta
viram vazio
dor e
escuro

sem nada a
dizer
sem querer falar
escondo fantasias
solenes e mudas
sonho de mãos
dadas com quem
chora e que
por mim
nunca chorou

na retina
o espanto
o homem é
humano
frágil e
só.

Hilda Helena Dias

Imagem: Diego Rivera.

mundo mudo

mundo mudo

a vida se
desfaz
aos poucos
morre
sem o paladar
da eternidade

pessoas sós e
amadas
se perdem no
que a boca
não diz
num mundo
sem som.

Hilda Helena Dias

medo

medo

na entrega
perco-me na
confusão de
ser amada
o mundo escondido
em prantos
canta o amor

a morte concebi
em pensamentos
nas noites
nos meus olhos
de criança
o medo

o medo
o medo
o medo...

aproxima-se da
fantasia e a
presença fica no
leito subterrâneo
sem desejos
somos pássaros
sem asas

submersa
vejo paisagem
sem cor
dentro de mim
a certeza
do impossível.

Hilda Helena Dias

THE LOVERS
Performance for Camera
Ana Montenegro and Maurizio Mancioli, collaboration.
São Paulo, 2015

domingo, 24 de abril de 2016

Gestos fundos.

gestos fundos

murmúrios escorrem
da fonte
descanso em teu
peito minhas
mãos sepultadas
a fecundar sementes
de vida

meu pranto
grita em meus
ouvidos
nada sei dizer
melhor não falar
não há  lugar para
palavras
por isso não há
desencanto
sem gestos rasos
não se mente amor.

Hilda Helena Dias

Peregrino

peregrino

a morte conduz
o amor do
começo ao fim
o que é visto
tolhe a imaginação

inventa-se
além do presente
a fantasia da
vida

sem perder o
bem
a alegria em
alegoria
define o que
não cabe ao
peregrino descobrir.

Hilda Helena Dias

Filhos da Noite

filhos da noite

com permissão
sinto beleza
nas coisas que de
mim não
escondes

desabrocho em
promessas
quando você se
expande

nossa culpa é
redimida nas
palavras loucas
no ouvido
que morrem comigo

no choque da
doida investida
soluços não ouvidos
se abrem em
choro,
promessa e
dor

amados
transformados
em noite
florescem como
filhos do medo

na áspera rocha
pressinto  a fonte
renascendo
o amor abraça e
morre comigo.

THE LOVERS
Performance for Camera
Ana Montenegro and Maurizio Mancioli, collaboration
São Paulo, 2016

Luto

luto

na hora da morte
falas de generosidade
o corpo com medo
da terra
vê enterrado um
amor maior
existente em si

a memória perdida
depois do tormento
fica só
no pensamento
areia e sal
temperada no
esquecimento
em busca do mar
vê rio

na escuridão
deixaste a terra
depois de
alimentá-la .

Hilda Helena Dias

Haicai de Alexander Martins Vianna  do poema:

antes da morte
o corpo com medo
se enterra